quinta-feira, 25 de setembro de 2008

O REINO DE DEUS



Seu Chamado

O grande desafio da vida cristã é continuar a missão deixada por Jesus. E esta é a incumbência da Igreja.
Um desafio que se apresenta a todos, em toda parte, que buscam com fidelidade expandir o Reino de Deus. O chamado do Senhor é muito mais do que um “Ei, psiu, venha aqui!”. Qualquer convocação, antes de tudo, é um chamado à renúncia, a doar-se, a comprometer-se com a verdade. É amar a Deus acima de todas as coisas. É entender que o amor é a avenida principal que o Senhor usa para transformar vidas.
A parábola do Bom Samaritano será o espelho para avaliarmos e, quem sabe, redescobrirmos nosso chamado e prática missionária. Podemos ver esse ensinamento de Jesus como sendo uma coleção de atitudes, onde vários personagens agiram de maneiras diferentes, diante da mesma situação.
Em Lucas 10. 25-37, observe o que o homem ferido representou para cada um deles.Para o especialista na lei, o homem ferido era um tema para discussão. (v.25)É bem claro no texto que, entre o perito da lei e o ferido, não havia nenhuma ligação, nenhum interesse, aliás, o interesse do perito era ele mesmo. Ele coloca Jesus à prova. Quer fazê-lo tropeçar. Não existe compadecimento, dor, nem sequer esperança de algo em favor do homem caído. Suas palavras contradizem suas ações. Sua oratória não é sua prática. Sua pergunta é de alguém que realmente está interessado no Reino. Ele conhecia o caminho, sabia o que fazer (v.27). O que vemos é que, entre aquilo que falamos e praticamos, pode haver um grande espaço. Às vezes, nos encontramos da mesma forma. Sabemos, entendemos e nos interessamos pela obra missionária. Tantos congressos, seminários, treinamentos, pregações. Temos conhecimento, mas, mesmo diante de tanta informação, a ausência da prática predomina. Jesus o incentivou (v.27). Muito bem! Você sabe, você conhece. Faça isso e viverá. Faça, coloque em prática e viverá. Tiago fala para não sermos apenas ouvintes, mas praticantes da Palavra. Se a obra e o chamado missionário forem vistos da mesma perspectiva do perito na lei, serão apenas temas para discussão e haverá milhares de feridos caídos nas estradas da vida a procura de respostas e de alguém que se compadeça a ajudá-las.
Para os salteadores, o homem ferido era alguém para ser usado e explorado. (v.30)A distância entre Jerusalém e Jericó era de 27 quilômetros. Era uma grande descida, porque Jerusalém estava situada a mil metros acima de Jericó. Era também uma estrada muito perigosa e famosa por sua violência. Nos dias de Jerônimo, ficou conhecida como caminho sanguinário. O texto diz que os ladrões o exploraram, deixando-o quase morto. Pensemos um pouco sobre a perspectiva dos ladrões. Eles refletiram no valor do roubo e não no valor da vida. Priorizaram as posses, os bens. A existência ficou em segundo plano. Valores invertidos e valores referentes à vida. Para eles, o homem oferecia algo que lhes acrescentaria. Suas intenções eram extrair algo, adquirir alguma coisa, de tal forma que o deixam semimorto.
Da mesma forma, missões não pode ser uma fonte de extração. O chamado missionário é uma atitude de entrega, onde você investe sua própria vida. Jesus disse que aquele que quiser ganhar sua vida perdê-la-á, mas aquele que a perder por amor a Cristo, este vai achá-la. O “perder a vida” por amor a Cristo é o maior investimento que um cristão pode fazer. É na morte de nossa própria vontade e direitos que encontramos sentido para viver. Poderíamos dizer que, para Deus, é perdendo que se ganha.
Para os salteadores, o homem foi uma oportunidade de aumentarem suas posses, seus bens, seus status quo. Para o bom samaritano, o ferido foi uma oportunidade para aumentar seu amor, sua fé e devoção. Investiu seu tempo, dinheiro, seus próprios bens e ainda comprometeu-se em cuidar dele.
Para os religiosos, o homem ferido era um problema a ser evitado. (v.31-32)No mesmo caminho, vinham o sacerdote e o levita. Estavam no templo, cuidando das coisas de Deus. Quando percebem o ferido, passam para o outro lado. Evitam até mesmo a proximidade. Cuidavam das coisas de Deus, mas parece que a religião que seguiam desconsiderava o amor ao próximo. A prática dos religiosos consistia dentro de quatro paredes do templo. Não podemos nos esquecer que a palavra igreja, em grego Ekklesia, significa “chamados para fora”. Logo, ser Igreja é ser chamado para fora.
Lembremos que Jesus disse que somos o sal da terra e a luz do mundo. Se nossa prática missionária não atravessar as paredes de um templo, o efeito que causaremos será quase imperceptível. Seria como acender mais uma lâmpada em Las Vegas, ou então jogar uma colher de sal no mar. Que diferença poderiam fazer? Que resultados podemos esperar? Max Lucado fala que, se agirmos assim, seremos semelhantes a um médico que coloca uma placa dizendo que não atende doentes, um dentista que não atende ninguém com dentes cariados, um veterinário que não trabalha com animais. Seria incoerência com os títulos que carregam. Se somos a Igreja do Senhor, somos então chamados para fora, este é nosso papel.
Para o samaritano, o homem ferido era um ser humano digno de cuidado e amor. (v.33-36)Foi um tapa na cara para o intérprete da lei ouvir que sua religiosidade não servia para nada e que quem ajudou o ferido foi um samaritano, pois, este tinha práticas religiosas muito diferentes dos judeus. Sua atitude é um modelo a ser seguido, revela amor e comprometimento. Ser cristão implica em amor ao próximo. João escreveu que mentimos, se dizemos que amamos a Deus - a quem não vemos - e não amamos ao nosso irmão que enxergamos. O amor e o comprometimento são características daquele que encarna seu chamado e não estão direcionados somente para aquele que vai, mas o mesmo peso é colocado sobre aquele que envia, que investe e ora.
Jesus nos deixou a ordem de ir, então, não podemos esperar que os feridos venham até nós, mas vamos até eles, procedendo conforme a atitude do bom samaritano. Finalizo esse estudo com uma frase que ouvi nos quatros anos de seminário, a qual define nosso chamado missionário:
“Ministério não é um degrau que se sobe nem um chamado a mandar, mas, um degrau que se desce e um chamado a servir.”
Djonisio de Castilho
SGM

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